Portfólio
Balaio de dados
cinema.acervo.site
Este é o novo formato das bases de teses e de filmes estrangeiros exibidos no Brasil, antes hospedados no site da Mnemocine (mnemocine.com.br). De forma a centralizar as bases de dados, acrescentamos o site Salas de cinema em São Paulo, hospedadas no Arquivo Histórico da cidade de São Paulo – AHSP e na Cinemateca Brasileira, antigas parceiras no projeto.
Na nova configuração, elas foram organizadas de forma a trazer os dados em qualquer uma delas. Por exemplo: o termo Bijou pode vir com informações de Salas (Bijou Theatre e outros cinemas que contenham o termo Bijou) e de Filmes (filmes exibidos no Bijou Theatre ou que contenham a palavra no seu título) ou alguma tese que se refira ao Bijou. Caso você não queira a forma integrada, basta escolher na caixa MENU uma das três bases para pesquisa.
A base de teses, na sua primeira versão, englobava todos os mestrados, doutorados e livres-docências realizados no Brasil sobre cinema brasileiro, acrescida de teses ou dissertações estrangeiras sobre cinema brasileiro. A pedido do organizador do site hospedeiro, o prof. Flávio de Souza Brito, foram incorporadas as teses e dissertações sobre cinema estrangeiro (antes uma listagem). No momento o conjunto compreende mais de 5.300 registros. Nos últimos anos agregamos um campo a mais, as dissertações e teses que estavam online nos repositórios institucionais. Mas como os endereçamentos dos sites mudam com as modernizações e atualizações de equipamentos e softwares, não nos responsabilizamos pela não localização no endereço indicado online.
A base de filmes estrangeiros exibidos no Rio de Janeiro e em São Paulo partiu da primeira exibição de um cinema ambulante, o Omniógrafo, em 08/07/1896, integrando depois o trabalho de Jean-Claude Bernardet sobre cinema estrangeiro no jornal O Estado de S. Paulo, pretendendo completar o ciclo do cinema mudo em 1934, quando o cinema sonoro passou a ser dominante. Por enquanto estamos exaustivamente levantando os títulos de películas em 1920, somando, desde 1896, mais de 35.000 títulos estrangeiros. Qualquer título além do período citado contará com a sorte de ser encontrado no material de Bernardet ou de outros pesquisadores que nos permitiram acesso aos seus dados.
A base Salas de cinema foi um projeto empreendido entre 2009 e 2011. Graças a documentação do Arquivo Histórico e o apoio do CNPq, Ricardo Mendes, na época pesquisador do AHSP, organizou os dados coletados numa plataforma WinIsis. Nesta nova versão pelo software livre ABCD houve uma adaptação que mudou a apresentação visual dos registros. Portanto, a versão antiga pode ser consultada nos sites do AHSP ou da Cinemateca Brasileira, mas os conteúdos são os mesmos.
Publicações
O ESTADO CONTRA OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO (1889-1945)
Publicado em 2003 numa coedição Annablume/Fapesp na coleção “Comunicação”. O livro foi editado por Joaquim Antonio Pereira, que hoje tem a sua própria editora, a Intermeios, conduzindo todo o processo, ou seja, da recepção dos originais à saída na forma de livro. O formato 11,5 x 20 cm não é muito gracioso; a capa padronizada, que distinguia um título do outro somente pela cor uniforme, também não contribuía para torná-lo atraente. A dotação da Fapesp foi de R$ 5.000,00. Nunca recebi um extrato com o número de exemplares ou resultado das vendas. Nem era de praxe se esperar tal coisa da Annablume.
O Estado era o resultado de minha dissertação de mestrado, orientada pela professora da ECA/USP Maria Rita Eliezer Galvão, defendida em 1991. Na banca estavam a professora Maria Helena Capelato, pelo Departamento de História/USP, e Jean-Claude Bernardet, pela ECA, que também escreveu a apresentação do livro. Até o último minuto ainda fiz correções no texto, o que deve ter sido bem inusual, enviando aos membros da banca páginas adicionais ou substitutas. Estava muito nervoso durante a defesa com a conversa dos meus amigos, os professores Afrânio Mendes Catani e José Mário Ortiz Ramos, que me tiravam a atenção, e mais tarde por um gesto deselegante com a professora Capelato. A todos minhas tardias e inúteis desculpas.
O mestrado era o resultado do meu trabalho como catalogador na Cinemateca Brasileira, manuseando diariamente materiais do Cine Jornal Brasileiro, cinejornal do Departamento de Imprensa e Propaganda-DIP, um órgão do Estado Novo. Maria Rita já tinha coordenado uma primeira ordenação daquela documentação que Paulo Emilio tinha salvo da destruição com um caminhão e muita clarividência, porque eram filmes em nitrato, altamente inflamáveis. Por outro lado, eu aproveitava a documentação do DIP que estava sendo aberta pelo Arquivo Nacional (Fundo Presidência da República), numa feliz conjunção de documentos em imagem e em papel. Outra coisa interessante: nos anos 1980 a informática dava sua entrada nas casas e na Cinemateca.
Meu primeiro computador, comprado em 1982, era uma cópia de um IBM com monitor de fósforo verde. O primeiro da Cinemateca, uma doação da Unesco em 1985, já com monitor colorido, serviu para se passar todo o controle de materiais fílmicos que estavam em fichas e boletins de entrada em papel para uma planilha criada no programa da própria Unesco, o MicroIsis. Na reordenação a que me tinha proposto sobre o trabalho inicial fiz com Roberto Souto, o então programador da Cinemateca, uma ficha própria para a catalogação de cada filme. O objetivo era a obtenção de uma seriação mais correta da documentação, que redundou num segundo catálogo, base para o estudo da parte fílmica do DIP em 1989. A documentação do Arquivo Nacional do início ao fim revelou-se um pouco frustrante quanto ao meu objeto. Vistas hoje, as quantificações e porcentagens extraídas da planilha digital parecem expostas com pouca objetividade, como mereceriam essa classe de informação. É uma crítica que ninguém fez nos trabalhos que se seguiram a O Estado contra os meios de comunicação, expondo a sua aridez conceitual nas relações entre Cinema e História.
PAULO EMILIO NO PARAÍSO
Em 1991, num momento em que tinha terminado o mestrado e não era mais catalogador de filmes na Cinemateca, comecei pesquisa o arquivo pessoal de Paulo Emilio, doado pela viúva Ligia Fagundes Telles logo após a sua morte. Paulo Emilio guardava qualquer pedaço de papel, fosse um embrulho de pão anotado, fossem em documentos oficiais, mais cartas, bilhetes, conferências, o diabo. A coisa foi tomando vulto quando mergulhei naquela maçaroca de papel, como gostava de dizer nossa colega de Departamento, Zulmira Ribeiro Tavares, passando da ordenação para a pesquisa e redação de uma biografia intelectual de Paulo Emilio. Fui cercando os períodos conforme a documentação sugeria (1929-1939 ou 1929-1940; 1940-1946; e daí para frente até a sua morte), ao mesmo tempo em que redigia cada fase de sua vida. No final, tinha cinco volumes que iam sendo depositados na biblioteca da Cinemateca, somando mais de 1.200 páginas. O Plano Real e a paridade da nova moeda brasileira ao dólar me permitiram a extravagância de passar seis meses em Paris com mulher e filha, aproveitando férias e licenças vencidas para me ausentar da Cinemateca legalmente. Era a oportunidade para aprofundar o lado europeu da vida de Paulo Emilio, que morou, em duas estadias, quase dez anos fora do Brasil.
Nunca pensei que alguém aceitaria a publicação do(s) texto(s), já que a Cinemateca nunca dera provas de interesse pelo assunto, ao contrário, havia uma cobrança pela continuidade do trabalho corrente. Paulo Emilio era um plus, uma coisa minha. Dessa forma, quando me decidi a sair a campo, a negativa do Alberto Martins na Editora 34 me pareceu natural. Mandei para a Record, no Rio e, numa bela manhã, recebo um telefonema de Ana Paula Costa aprovando a publicação do livro. Exigiam apenas um corte de 30%, o que no final foi benéfico. O trabalho de corte foi menos penoso do que pensava. Havia muita nota de rodapé, muito desvão que merecia mais pesquisa. O caderno de fotos é primoroso. A capista projetou duas versões. A escolhida foi a mais flamejante, de acordo com Paulo Emilio e o título.
Lançado em 2002, nunca achei que Paulo Emilio no paraíso virasse enredo de escola de samba ou minissérie televisiva. A personalidade fascinante de Paulo Emilio, no entanto, merecia melhor sorte ou, então, outro biógrafo. O livro foi um fracasso em termos de vendas. Um historiador franco-brasileiro o classificou de chato. Teve um pífio lançamento carioca no saguão do cine Odeon durante o IV FestRio. Fausto Canova foi um dos poucos compradores. Eram tão poucos que me lembro dele: “eu conheci o Paulo Emilio”. Diante disso, acho que não se pensou num lançamento em São Paulo. No ano seguinte, ganhou o prêmio Jabuti na categoria Reportagem e Biografia, concorrendo com Eny e o grande bordel brasileiro e Fidel Castro: uma biografia consentida.
Paulo Emilio no paraíso coroou os dez melhores anos de minha vida.
RETROSPECTIVA DO CINEMA BRASILEIRO 1975
Retrospectiva foi o primeiro trabalho que publiquei logo que me interessei por cinema. A ideia e o objetivo estão muito ligados aos contatos com Paulo Emilio tidos no segundo semestre de 1975, fosse seguindo o seu curso na graduação na ECA, fosse no IDART-Departamento de Informação Artística, dirigido por Maria Eugenia Franco, cujos objetivos eram a coleta, o registro e o tratamento da documentação cultural da cidade em hemerotecas especializadas, por exemplo. O IDART estava instalado na rua Roberto Simonsen, na chamada Casa da Marquesa, que anos depois serviu para uma das sedes do Arquivo Municipal e hoje abriga a Casa da Imagem, especializada em fotografia. Quando a Cinemateca Brasileira se aprumou na década de 1980 a ideia se transferiu para lá (o IDART continuou o seu percurso na Casa da Marquesa, passando depois para a Casa das Retortas até se fixar no Centro Cultural São Paulo). Boa parte do pessoal do setor de Documentação e Pesquisa da Cinemateca trabalhava na seleção e organização do que aparecia na imprensa (jornais e revistas, principalmente).
Como anuncia o título do livro, era uma compilação do que tinha acontecido no cinema brasileiro durante o ano de 1975, com um texto introdutório, fichas de filmes e um gráfico com a curva de exibição das películas no ano, evidenciando a tradicional preponderância das férias (janeiro e julho) nos lançamentos. O livro foi editado por um oriental, que tinha uma gráfica especializada em teses universitárias na Vila Mariana. Não me lembro quantos exemplares foram tirados em 1976, talvez 500. A sua divulgação foi feita nos eventos, festivais e livrarias que o aceitaram em consignação. Ricardo Mendes, sempre que pode, lembra ter-me visto pela primeira vez, oferecendo exemplares no “festival do Cakoff” (Mostra Internacional de Cinema de São Paulo). Por décadas fiquei com um bom número de livros atravancando um armário, até que um carroceiro se dispôs a ganhar algum dinheiro com a venda de papel reciclável.
SALAS DE CINEMA E HISTÓRIA URBANA DE SÃO PAULO (1895-1930): O CINEMA DOS ENGENHEIROS
Já contei isso em outro lugar, mas vale a pena repetir. Tinha lido o livro de Heloisa Barbuy A Cidade-exposição em que a historiadora se utiliza da documentação do Arquivo Municipal para a localização dos imóveis urbanos dedicados ao comércio. Pensei cá com os meus botões se não existiria coisa semelhante para os cinemas da cidade. Máximo Barro já tinha fuçado no Arquivo anos antes, e cruzei com ele, numa das vezes em que o Arquivo esteve alojado provisoriamente na Chácara Lane da rua da Consolação. São os azares da pesquisa. Vicente de Paula Araújo não tinha chegado ao Omniógrafo porque a coleção da Gazeta de Notícias paulistana era incompleta. Máximo Barro não descobrira as plantas porque elas ainda estavam em processamento técnico. Quando procurei Ricardo Mendes, que no início do segundo milênio estava no Arquivo, para assuntar sobre o tema, ele me despachou para fora imediatamente porque preparava um número do Informativo do Arquivo Municipal sobre a documentação (nº.11, Edificações particulares, 2007).
Limpa, acondicionada em caixas e identificada por ano e rua bastava uma boa listagem dos endereços dos cinemas paulistanos para se começar a pesquisa. Como durante algum tempo a administração municipal permitia que os proprietários, construtores ou simples mestres de obras levassem as plantas embora, deixando no lugar um mero requerimento, havia necessidade de se varrer outras séries documentais, ainda existentes graças ao esforço de Mário de Andrade quando tinha sido diretor do Departamento de Cultura. Um exótico pedido de pós-doc foi aceito pelo CNPq para ser desenvolvido no Arquivo, que não tinha nenhuma experiência no recebimento de pesquisadores nessa modalidade, instituindo-se a doutora-arquiteta Maria Bonafé como orientadora. Isso permitiu que se contratasse uma auxiliar de pesquisa, Karla Maestrini, aquisição que não só se revelou excelente, como bafejada pela sorte ao encontrar entre milhares de documentos um relatório sobre os cinemas da cidade organizado pelo engenheiro José de Sá Rocha, mas que não tinha classificação precisa, estando perdido entre as centenas de ruas da cidade.
A documentação aberta ao público cobria os séculos XIX e XX, porém até 1921. Esgotado o Arquivo da praça Fernando Prestes, havia necessidade de pesquisa no Arquivo Intermediário, situado no Piqueri. Mais uma vez Ricardo Mendes foi a ponte necessária para a consulta dos fichários quilométricos. Muitas vezes recorremos ao sistema eletrônico da Prefeitura para a identificação de nomes ou ruas que iam aparecendo, graças ao conhecimento que Walter Biondi tinha da planilha da Prodam.
A pesquisa gerou vários filhotes. O livro primoroso que o Senac editou; um site sobre as salas hospedado na instituição parceira, a Cinemateca; Ricardo ficou à frente de uma exposição das plantas significativas na Galeria Olido e de um curso sobre o cinema em São Paulo, também realizado no auditório da Secretária de Cultura; dois artigos para o Informativo, um dos quais sobre o engenheiro Sá Rocha, homem fundamental para o entendimento de como a administração encarava as casas de espetáculo cinematográfico, que não eram abertas ao léu porque podiam pegar fogo, por exibirem filmes de nitrato.
A CHANCHADA NO CINEMA BRASILEIRO
Este livro foi o volume 76 da coleção “Tudo é história” da editora Brasiliense. “Tudo é história” era uma das séries de sucesso da Brasiliense, cujo grande carro-chefe estava em outra coleção: a “Primeiros passos” com “O Que é” capitalismo, socialismo, amor, contracultura, etc. A matriz estava na coleção francesa “Que sais-je?”, embora não chegasse aos pés daquela. Meu sócio na empreitada foi Afrânio Mendes Catani, autor de dois “O que é” de sucesso: O que é capitalismo e O que é imperialismo. Dezenas de edições. Nas nossas minibiografias era dito que Afrânio era professor em Araraquara, embora já tivesse passado por outras faculdades, antes de se fixar na Educação da USP; eu era um distribuidor de livros em Ribeirão Preto. Curiosa combinação, a princípio, para quem desconhecia que nos conhecíamos de alguns anos antes, quando ele era pesquisador do IDART e eu andava por lá, acertando detalhes de datilografia com a secretária da área de Cinema, Thais Sandri.
O interesse pela chanchada foi um dos resultados benéficos da reestruturação da Cinemateca Brasileira que, graças ao Rudá de Andrade, conseguiu uma parte do último andar do Museu da Imagem e do Som-MIS para a instalação da biblioteca e arquivo da instituição. Duas pessoas cuidavam do acervo, Elenice de Castro e Jair Piantino, ambos com passagem anterior no Museu Lasar Segall, que tinha alojado a documentação da Cinemateca nos tempos aziagos da decadência dos anos 1970.
Meu interesse inicial era pela Atlântida, tanto que se fala praticamente de passagem pela Cinédia. O que não conseguimos na Cinemateca foi obtido em viagens ao Rio de Janeiro. Era o tempo em que ainda se fazia necessário o deslocamento ao antigo DF para a consulta das coleções de jornais na Biblioteca Nacional. Afrânio se encarregou também das indicações de leitura, bibliografia e filmografia.
A tiragem do livrinho de mais ou menos 11 x 15 cm lançado em 1983 foi de 3.000 exemplares. Não houve reedições. De qualquer forma teríamos que esperar pelo trabalho de Sérgio Augusto em 1989 para que uma abordagem de peso aparecesse sobre o tema.
Salvados Digitais
Esse é o filho da pandemia. Estava quase para nascer quando tudo começou a ser bloqueado. Ninguém saía de casa, recomendações as mais diversas sobre tratamento, antes que a vacinação se impusesse como um fato. Morte. Mortes. Dezenas. Centenas. Milhares.
Em fevereiro de 2020 o editor Alexandre Alves, do Estúdio Amarelo, trouxe os cadernos diagramados prontos para ser encaminhados para a gráfica. Uma última revisão. No mês seguinte ele era entregue pela Bartira Gráfica. Não era uma perfeição, o que foi decepcionante pelos livros que conhecia da Bartira, principalmente na capa que não tinha o brilho necessário para o destaque do desenho; a contracapa era fosca demais, parecendo suja. O título também era estranho. Alguém na Gráfica rotulou as caixas como “Salvador Digitais”, uma mistura de livro evangélico com primário mal feito. Enfim, comecei a pensar no lançamento aqui em casa como tinha acontecido com Congressos, patriotas e ilusões… quinze anos antes. Um encontro de amigos e conhecidos que beberiam um vinhozinho e ganhariam um livro numerado e assinado pelo autor. Logo vi que tudo seria suspenso. Mensagens de convites foram seguidas de suspensões pandêmicas, porque ninguém sabia o que fazer. Passei a pedir o endereço de cada um para mandar o exemplar pelo correio. O encontro em casa teria resultado mais agradável (e barato) do que a atividade postal.
O livro é uma coletânea de artigos aparecidos nas décadas anteriores, com textos escritos entre 2004 e 2019, alguns inéditos, a maioria veiculada pela internet, principalmente no site Mnemocine. Os algoritmos estão cada vez mais precisos, mas para quem gosta de livros não é a mesma coisa. Mesmo que o Kindle tenha me socorrido na pandemia, ainda sou um fã do livro impresso.
Salvados está dividido em três partes. Na primeira temos artigos sobre a ditadura militar com análises sobre alguns filmes que enfrentaram a questão da guerrilha e do foquismo como Prata Palomares, Fome de amor e A Ilha dos prazeres proibidos. Na segunda parte temos textos escritos para o Informativo do Arquivo Histórico Municipal, com ênfase sobre o cine Belas Artes e a criação de um circuito de cinemas de arte na cidade de São Paulo. Gostaria de ter acrescentado o artigo sobre o engenheiro municipal José de Sá Rocha, mas o volume já estava grande demais. Por fim temos uma seção dedicada ao cinema mudo com destaque para Paschoal Segreto e o Salão de Novidades Paris no Rio. Graças a leitura atenta do Francisco Mattos há a informação sobre a passagem de Segreto pela prisão de Fernando de Noronha, para a qual até o momento ninguém acrescentou qualquer contraprova. Seria uma patranha dos jornais recifenses ou Segreto tentou expandir seus golpes? Vamos aguardar.
A única opção de compra do livro está na Estante Virtual. Caso não o ache, deixe um recado na caixa de contato, antes que um carroceiro reciclador se interesse pelo assunto.
A carga da brigada ligeira: Intelectuais e crítica cinematográfica, 1941-1945
A origem do texto está no meu doutorado defendido em 1996 sob a orientação de Maria Rita Eliezer Galvão. Ele está totalmente imbuído das minhas preocupações pauloemilianas iniciadas em 1991, englobando agora todo o grupo de Clima, a revista de cultura pensada por Antonio Candido, Décio de Almeida Prado, Ruy Coelho, Lourival Gomes Machado e Paulo Emilio, que se encarregou da seção de cinema, enquanto a atividade política contra o Estado Novo não o levou para outros rumos.
A crítica de cinema em São Paulo já tinha contado com outro nome ilustre entre a intelectualidade paulistana, Guilherme de Almeida n’O Estado de S. Paulo, na década de 1920, carregada, no entanto, de outros significados, pois voltada ao dia a dia do comentário de jornal como o conhecíamos até alguns anos atrás, antes dos cadernos de cultura abandonarem a prática da cobertura diária por seus críticos fixos ou seções específicas, instituindo-se no lugar o excepcional ditado pelos agentes culturais de maior peso econômico. A “brigada ligeira” começou a se formar a partir de 1941 com Paulo Emilio em Clima, Vinicius de Moraes no jornal da ditadura A Manhã, Francisco Luiz de Almeida Salles no Diário de S. Paulo, pertencente a cadeia de órgãos de imprensa de Assis Chateaubriand, que também publicava os comentários sobre literatura em rodapés de Antonio Cândido, e Ruy Coelho, que substituiu Almeida Salles no Diário (até Décio de Almeida Prado escreveu crítica nas férias de Ruy). Sem plano prévio ou orquestração arranjada, organizaram a defesa do indefensável: a luta pela primazia do cinema mudo sobre o sonoro. Essa quixotesca porém aguerrida batalha trouxe para a arena cultural urbana das duas maiores cidades brasileiras as linhas mestras do que era o cinema para além da diversão, do que era necessário para o seu estudo – uma cinemateca, por exemplo –, de uma configuração diferente dos espaços de congraçamento intelectual, que agora necessitava de uma sala especializada para a fruição e discussão daquilo que se entendia como obra cinematográfica.
O resultado do texto não me agradou, por isso nunca pensei em editá-lo. Sempre me pareceu que faltava um algo que nunca se metamorfoseou no meu pensamento. Não sei como definir, mas acho um texto manco. O porquê o procuro até hoje.
Ele apareceu na forma de e-book graças ao interesse de Flávio Brito em abrir uma linha de edições no site Mnemocine. Os outros lançamentos no formato eletrônico foram de André Gatti e Fernanda Coelho. Mas a ideia não avançou.
Imagens do passado:
São Paulo e Rio de Janeiro nos primórdios do cinema
A imagem do passado mais forte que eu tenho é o 11 de setembro. Estava revendo charges e ilustrações na Gazeta de Notícias, jornal do Rio de Janeiro, para um possível livro, quando a bibliotecária que nos atendia nas precárias instalações da então Biblioteca Presidente Kennedy, em Santo Amaro (atual Biblioteca Prefeito Prestes Maia), e que tanto devem ter ajudado na rapinagem do criminoso Laéssio Rodrigues de Oliveira, subitamente entrou na sala de consulta anunciando a III Guerra Mundial. As Twin Towers estavam sendo atacadas. Era hora de ir embora.
Nessa altura, a pesquisa sobre Paulo Emilio estava quase encerrada. Eu vinha fazendo outras visitas semanais, às sextas-feiras, ao Museu do Ipiranga para a consulta do microfilme do jornal O Estado de S. Paulo, buscando informações sobre a trajetória de Francisco Serrador e outros exibidores no panorama paulistano antes e depois dos anos 1910. Em Santo Amaro dependíamos do agendamento programado pela Biblioteca Mário de Andrade, no centro da cidade, que tinha que deslocar um funcionário, e uma vez por semana, para o acompanhamento dos pesquisadores que trabalhavam nos jornais e revistas que ali estavam arquivados, em geral periódicos de outros estados. No meu caso era a Gazeta de Notícias. Na administração do secretário da Cultura Carlos Augusto Calil todos os periódicos foram higienizados e concentrados no anexo da rua Bráulio Gomes, terminando com esta peregrinação por São Paulo. O mais importante de tudo, no entanto, estava num texto de Jean-Claude Bernardet.
Bernardet no pequeno texto editado pela Annablume, Historiografia clássica do cinema brasileiro, tinha feito uma revisão do que entendíamos por história do cinema brasileiro até os anos 1990, colocando de cabeça para baixo vários sentidos tomados pela historiografia corrente. Eu me aproveitava dos desafios lançados por Bernardet para também navegar nas águas do revisionismo histórico. Para tanto, as lições do nacionalismo exacerbado de Paulo Emilio contra os exibidores, contra o “comércio cinematográfico” como ele maldizia, deviam ser deixadas de lado, sendo necessária uma compreensão mais profícua de como operava a exibição. Como o próprio Paulo tinha nos ensinado, muitas de nossas mazelas não eram impostas de fora pelo imperialismo (britânico ou americano), porém decorriam da nossa inserção no capitalismo internacional. Dessa forma, os dados e os informes estatísticos sobre o comércio cinematográfico, sobre como trocávamos café ou borracha por rolos de filmes e abertura de cinemas, deveriam estar no centro da pesquisa. As sacadas sobre Serrador foram bem estruturadas pela documentação, assim como o golpe que ele aplicou sobre os franceses da família Ferrez, que nunca o perdoaram por isso.
Graças ao interesse do professor José Mário Ortiz Ramos do departamento de Sociologia da Unicamp, programei para o ano de 2001 o que me parecia a trilha para essa revisão historiográfica, dentro de um pós-doutorado naquela instituição, organizando um seminário e fazendo pesquisas. Hoje, o ambiente me parece errado, talvez no Instituto de Artes ele fosse melhor aceito, afora a hostilidade e desinteresse dos colegas sociólogos que não eram muito curiosos sobre Cultura (o forte do departamento era Trabalho). Desencontros.
Por sorte o texto foi parar nas mãos de Inês Alexandre, vinda também do curso de História da USP, sendo aceito pela Editora Senac. Apesar do tema, cinema brasileiro, foi o que melhor se saiu entre os leitores. Não esgotou a edição, mas em comparação com seus vizinhos, como o imponente Paulo Emilio, pode-se dizer que foi um sucesso.
CONGRESSOS, PATRIOTAS E ILUSÕES E OUTROS ENSAIOS DE CINEMA
Editado em 2005 pela Linear B, a gráfica da Annablume, sob encomenda do autor (não saiu pela Annablume porque ela não era um selo de aluguel, dizia o dono). Foram impressos 200 exemplares numerados e assinados pelo autor. Tinha um aspecto melhor do que O Estado. O seu formato era de 14 x 21 cm e a capa continha uma pequena brincadeira sobre a foto do II Congresso do Cinema Brasileiro que ninguém percebeu. O livro está divido em três partes: o texto sobre os Congressos de Cinema que escrevi entre a Retrospetiva 1976 (inédita) e a Chanchada no cinema brasileiro com uma bolsa da Funarte, em 1981; quatro artigos sobre Paulo Emilio que eram uma forma de divulgar de forma mais ampla o que vinha pesquisando no acervo da Cinemateca e quatro artigos sobre cinema mudo aparecidos antes na Revista USP e no site Mnemocine. Ou seja, agregava ensaios de tamanhos diferentes cobrindo mais de 20 anos. A parte maior era a dos Congressos, significando metade do volume de 243 p. O texto em si era pequeno porque a exposição das teses e indicações apresentadas nos três encontros (um paulista e dois nacionais), nos quais se expunham a plataforma nacionalista e popular de se encarar o cinema brasileiro nos anos 1950, ocupavam o grosso do trabalho. Gosto mais dos artigos, De vez em quando encontro uma informação nova que poderia ser assimilada como o fato de Celso Furtado ter feito uso da biblioteca do Institut Français des Hautes Études Brésiliennes, uma invenção de Paulo Duarte em combinação com Paul Rivet no Museu do Homem, no qual Paulo Emilio fazia as honras da casa quando Duarte estava no Brasil. Mais um que poderia dizer: “Eu conheci o Paulo Emilio” (embora o seu grupo fosse o dos comunas). Como era um livro para ser dado aos amigos, fiz um lançamento caseiro, convidando o máximo de pessoas que poderiam caber no meu apartamento. Zulmira Ribeiro Tavares e Ismail Xavier deram a honra de aparecer, o pessoal da Cinemateca, Afrânio, Flávio Brito, assim como aqueles que eu denominava o “quarteto brasileiro”: Arthur Autran pelo Amazonas, Guiomar Ramos por São Paulo, Luciana Araújo por Pernambuco e Glênio Póvoas, pelo Rio Grande do Sul. Toda uma nova geração de estudiosos em cinema brasileiro diplomados pela ECA e hoje professores em atividade em diferentes universidades.
Capítulos de livros
CINE LATINOAMERICANO AÑOS 30-40-50
Silvia Oroz foi a organizadora das mesas para o XI Festival Internacional del Nuevo Cine Latinoamericano ocorrido na cidade do México em dezembro de 1989. Pelo Brasil foram Maria Rita Galvão, que fez uma exposição sobre a Cia. Vera Cruz, Ismail Xavier, sobre a volta ao melodrama nos anos 1980, com ênfases em Lúcio Flávio, o passageiro da agonia e A História oficial, do argentino Luis Puenzo, e Afrânio Mendes Catani, com La chanchada en el cine brasileño. O texto é mais do que um resumo do livrinho da Brasiliense, porque já tinham sido publicados os trabalhos de Sérgio Augusto, Este mundo é um pandeiro, e o mestrado de Miguel Chaia, O tostão furado.
A edição de 3.000 exemplares patrocinada pela Universidade Nacional Autônoma do México-UNAM foi muito mal revisada com traduções de filmes brasileiros uma hora, somente títulos originais em outra, traduções indevidas, até o pulo de uma linha na passagem de uma página para outra, tornando o trecho incompreensível, principalmente quando se estava no fim da exposição. Que lástima!
Uma curiosidade que me escapou na época foi a presença do Iván Trujillo como diretor da coleção e Irma Espinosa como editora. Ainda voltaremos a falar de Iván.
La chanchada em el cine brasileño, In: Cine latinoamericano años 30-40-50. México, Dirección General de Actividades Cinematográficas, 1990, p.149-59.
ANUÁRIO DE INOVAÇÕES EM COMUNICAÇÕES E ARTES 1992
O Anuário foi editado em 1992 quando José Marques de Melo era diretor da Escola de Comunicações e Artes (foram editados quatro Anuários, porém as bibliotecas da USP guardam somente os dos anos de 1991 e 1992; a da ECA, nenhum). Apresenta nas suas divisões os trabalhos acadêmicos ocorridos na instituição como, apenas para citar alguns itens, os textos da aula magna e sínteses de teses e dissertações. Não me lembro de várias coisas: como se deu a escolha entre os mestrados defendidos em 1991; como surgiu o convite para participar do volume; quantas páginas deveria ter o resumo. Não posso dizer que o meu outro colega de seção era João Oswaldo Leiva Filho com o B-a-bá cinematográfico, porque devo ter entrado em algo mais amplo como a história da imprensa e propaganda durante o Estado Novo, já que o cinema era uma parte menor dentro do texto. Apesar da circulação restrita, a brasilianista Lisa Shaw, da Universidade de Liverpool, citou-o no seu artigo Vargas on film: from newsreel to the chanchada para a coletânea Vargas and Brazil (reproduzido no mesmo ano de 2006 em outra edição da Palgrave MacMillan, Vargas and Brazil: new perspectives).
Ação e imaginário de uma ditadura: controle social e propaganda política durante o Estado Novo. In: Melo, José Marques de e Carvalho, Mirian Rejowski de (org.). Anuário de inovações em comunicações e artes 1992. São Paulo, ECA/USP, 1992, p. 242-255.
NOVA HISTÓRIA DO CINEMA BRASILEIRO
Na sua primeira empreitada para uma obra abrangente sobre o cinema brasileiro, Fernão Ramos, o organizador do projeto, procurou-me para escrever um capítulo dentro do programa geral da obra. Isso deve ter ocorrido por volta de 1985-86, quando estava preocupado com outras coisas como o mestrado que iniciaria com a profa. Maria Rita Galvão. Não me recordo se já havia um andar específico reservado dentro do edifício que viria a ser a História do cinema brasileiro (Art Editora, 1987, 555 p.), contudo, provavelmente, minha contribuição se daria no período “inaugural” do cinema brasileiro, que foi escrita por Roberto Moura. Não me arrependo.
Trinta anos depois os estudos históricos no Brasil avançaram muito graças a fatores como a abertura de novos acervos, os cursos universitários de cinema, a própria evolução internacional das pesquisas, que trouxeram novas abordagens e temáticas, desaguando em revisões locais (vide o trabalho de Jean-Claude Bernardet), e as integrações digitais das bibliotecas, pesquisadores e historiadores pelos meios eletrônicos. Tudo isso trouxe uma massa inédita e acessível de informações que, bem digerida, forneceu uma nova face para aquilo que se fazia como História do cinema no país.
A Nova história do cinema brasileiro, agora organizado com a união entre Fernão Ramos e Sheila Schvarzman, possui dois volumes, 24 colaboradores e mais de 1.100 páginas. Um portento. O caderno de fotos do projeto antigo foi eliminado. Idem para a filmografia, posto que agora circulam muito mais informações sobre as fitas do que antes. O projeto gráfico tenta ser diferente pelo lado negativo. A diversidade de visões agregadas para o primeiro volume o torna mais atraente que o segundo.
No primeiro volume contribuí com um capítulo intitulado Os primórdios do cinema no Brasil. Foi um texto redigido entre 2015-16 no qual tento dar conta de diversos aspectos antes inexplorados como o papel dos importadores/exibidores, procurando fugir ao tom realçado pela figura de Paschoal Segreto. O resultado me satisfez. Como se diz em bom paulistanês, “o mundo gira e a Lusitana roda”, certas sacadas que achava ótimas já viraram velha história.
Os primórdios do cinema no brasil, In RAMOS, Fernão Pessoa e SCHVARZMAN, Sheila. Nova história do cinema brasileiro. São Paulo, Edições SESC, 2018, v.1, p.16-49.
HISTÓRIA E CINEMA
Nesta coletânea organizada pelos professores do Departamento de História da USP Maria Helena Capelato, Marcos Napolitano, Elias Thomé Saliba e, pela ECA, o historiador Eduardo Morettin, foi reproduzido o artigo que tinha escrito para a revista do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Paraná, História: Questões & Debates (nº. 38, 2003). A ponte para ambos os casos tinha sido o colega Morettin.
O artigo na revista paranaense saiu concomitantemente ao livro publicado pela Annablume, O Estado contra os meios de comunicação. Grosso modo, era uma parte do livro, trazendo os aspectos mais diretos sobre as relações entre Imagem e História, ou seja, como o Cine Jornal Brasileiro se transformara numa fonte documental importante para o mestrado de 1991. Cinejornais eram temas desprezados na ordem cinematográfica pela sua subordinação aos donos do poder, enquanto assunto, e sua inferioridade dentro da fruição da programação do cinema, estando abaixo dos trailers e dos desenhos animados. Viviam da propaganda paga e da pequena renda de bilheteria que lhes era devida. Na década de 1990 já estavam mortos, depois de uma longa vida iniciada nos anos 1910. Foram substituídos pelo telejornal.
Formado basicamente por notícias fragmentadas com a duração de dois minutos cada uma, afora as edições especiais, que ocupavam dez minutos, em média, colocava o problema de como ser abordado como documento, cujo controle não pertencia ao emissor, mas à série de agentes contratados pelo governo para a produção: escolha dos temas, redatores, câmaras, laboratórios de revelação e sonorização, distribuição e exibição. Todos trabalhavam sob o jugo da autocensura. Não se registram casos de insubordinação. Seguir a construção em imagens de uma personalidade, como a de Getúlio Vargas durante o Estado Novo (1937-45), ou a das Forças Armadas, era uma tarefa ingrata, posto que se tratava de reunir pedaços de um quebra-cabeça armado durante pelo menos sete anos e mais de 612 números num todo coerente, legível e historicamente factível. Foi um trabalho cansativo, mas de resultado positivo.
Houve uma onda de trabalhos sobre cinejornais, com resultados diversos, e o assunto maior, Cinema e História. Porém, esgotados os três maiores acervos, o Cine Jornal Brasileiro, o Bandeirante da tela e o Cine Jornal Informativo, a temática praticamente se fechou a novas investigações.
Trabalhando com cinejornais: relato de uma experiência, In: Capelato, Maria Helena et al (Orgs.). História e cinema. São Paulo, Alameda, 2007, p.117-33.
MAIS DE UM SÉCULO DE CINEMA EM SÃO PAULO: COMÉRCIO E INDÚSTRIA?
Texto escrito para uma obra em três volumes História do Estado de São Paulo: a formação da unidade paulista, organizada pelos professores Nilo Odália (que morreu antes de ver o projeto concluído) e João Ricardo de Castro Caldeira. O original foi escrito em 2009 para publicação em 2010 (o lançamento foi em outubro de 2010).
A coleção emulava para somente o estado de São Paulo o projeto da História Geral da Civilização Brasileira, na sua origem pensada por Sérgio Buarque de Holanda. Para o segundo volume, São Paulo República, participei da subseção Cultura. Outros autores trataram do rádio, teatro, imprensa, urbanismo, a trajetória de Paulo Prado, modernismo etc. Na HGCB Maria Rita Galvão e Carlos Roberto de Souza historiaram o cinema brasileiro entre 1930 e 1964 (O Brasil republicano, tomo 3, volume 11) porque no volume 9 a cultura ficara restrita à literatura até o modernismo.
Nunca fui um didata, talvez um autodidata, mas considero que o texto panorâmico sobre o cinema paulista tem qualidades de exposição interessantes para as suas 23 páginas mais uma de bibliografia. Ele dilui várias observações que estavam em Imagens do passado, de 2004. Além do mais, sintetiza um período mais amplo do que o tratado na HGCB, buscando fechar as duas pontas deixadas de fora do programa, na época, coordenado por Boris Fausto.
Pequenos senões ocorreram durante a edição do capítulo. O título era mais interrogativo: Mais de um século de cinema em São Paulo: comércio, e a indústria? Como ensina Arthur Autran, indústria cinematográfica é o termo mais falho no vocabulário da corporação, sendo que o capítulo expunha o deslize. Outra pequena falha foi uma foto do que seria a Cia. Vera Cruz em São Bernardo do Campo, trocada por uma foto de uma fábrica qualquer (o Arquivo Público do Estado de São Paulo ficou encarregado da parte iconográfica). Na bibliografia, que entrou no final do volume, duas referências foram omitidas. Com exceção do título, que dava outra ideia do que viria, nada muito grave.
Mais de um século de cinema em São Paulo: comércio e indústria. In Odália, Nilo e Caldeira, João Ricardo de Castro. História do estado de São Paulo: a formação da unidade paulista, vol.2, São Paulo, Unesp; Arquivo Público do Estado de São Paulo; Imprensa Oficial, 2010, p. 443-470.
Diálogos de Nelson com Glauber: Fome de amor
In: ABREU, Nuno César de et al. “Golpe de vista”: cinema e ditadura militar na América do Sul. São Paulo, Alameda, 2009.
Artigos
ARTIGOS PUBLICADOS
José de Sá Rocha engenheiro municipal. São Paulo, Informativo do Arquivo Histórico de São Paulo, 9 (35), fev. 2008, In: http://www.arquiamigos.org.br/info/info35/index.html
Palcos e telas: revista pioneira, São Paulo, Mnemocine, fev. 2022, In: http://www.mnemocine.com.br/index.php/cinema-categoria/24-histcinema/383-jis.
Este texto foi escrito em 2003 para a divulgação de uma documentação do Banco do Estado de São Paulo – Banespa, depositada na Cinemateca Brasileira pelo comprador da instituição bancária estadual, o Santander. Divulgado na época por meio do site de cinema Mnemocine (mnemocine.com.br), recebi algumas interpelações de colegas sobre a falta de acesso ao mesmo. Para sanar esta dificuldade, estou postando uma versão ligeiramente corrigida, de forma a que todos tenham fácil acesso. FONTES PARA O ESTUDO DO FINANCIAMENTO DE FILMES: A CARTEIRA DE CRÉDITO DO BANCO DO ESTADO DE SÃO PAULO.
Verbetes
DICCIONARIO DEL CINE IBEROAMERICANO
Participei do Diccionario com 53 verbetes. Era uma obra gigantesca que englobava Espanha, Portugal e a América de língua espanhola e portuguesa, ou seja, 22 países, 23 coordenadores, dezenas de verbetistas chamados para dar a sua contribuição. O trabalho ocorreu em 2004-5. Não me lembro se foi bem ou mal pago, só que deu trabalho para receber na Receita Federal. Pronto, resultou em mais de 8.000 páginas distribuídas por dez volumes, sendo dois somente com a filmografia. O diretor para a América Latina era Iván Giroud, que encarregou Afrânio Mendes Catani de coordenar (compilador na terminologia espanhola) os verbetistas brasileiros. Parece que os espanhóis ficaram com a parte do leão, o que era natural, concedendo fatias para portugueses e criollos. Cada verbete tinha uma classificação (os de meia lauda, uma lauda e aqueles mais importantes em que se podia ir um pouco além, tipo Humberto Mauro), metrificados a um número fixo de toques com espaço para caber dentro do esquema estabelecido em Madri. Na empreitada estavam Luciana Araújo, o próprio Afrânio, obviamente, Luiz Felipe Miranda, Alessandro Gamo e outros de que não me recordo agora. Cada um selecionou os nomes da listagem organizada por Afrânio e Luiz Felipe conforme as suas afinidades ou preferências. O verbete que mais me satisfez foi o de Hector Babenco, onde destaco o seu judaísmo. Quase vinte anos depois, muitos que ainda estavam vivos quando verbetados, hoje estão mortos. Não me perguntem por que Norma Monteiro foi incluída.
A colocação dos meus verbetes nesta página é uma infração legal. Como nunca recebemos nossos exemplares, nem as bibliotecas brasileiras viram nas suas estantes qualquer dos volumes prontos, pois parece que brigas internas entre os editores e o encerramento num depósito das coleções editadas impedem o acesso dos interessados aos livros ou, pelo menos, o envio das coleções acordadas às bibliotecas cooperantes, como a da Cinemateca Brasileira, considero que tenho o direito de expor o meu trabalho, fechado numa sala por questões que não me concernem (Amazon tem um ou outro volume à venda; algumas livrarias têm quatro volumes a 400 euros; a universidade de Wisconsin tem a coleção completa; no Brasil, somente Afrânio recebeu uma coleção). Livros patrocinados fechados numa sala não são uma exclusividade brasileira e, pelo visto, faz parte do espírito hispano e latino-americano.
Rodicio, Emilio Casares (coord.). Diccionario del cine iberoamericano: España, Portugal y America. Madrid, Sociedad General de Autores y Editores, 2011.
AUDRÁ – AURORA – AZEVEDO – BABENCO – BEATO – BETTI – BONFIOLI – BUENO – CABRAL – CANDEIAS – CAÑIZARES – CHIANCA – COSTA – DÓRIA – DUARTE – DUMONT – DUPRAT – DURÁN – ESCOREL – FALCO – FARIAS – FARKAS – FORTHMANN – GABUS – GIORGETTI – JOBIM – KHOURI – MAGALHÃES – MAURO – MEDEIROS – MONTEIRO – MORAES – MOURA – NORMA – NORONHA – PAYNE – PERSON – PIRES – PONGETTI – REIS – REZENDE – RICHERS – ROULIEN – SALLES – SANTOS – SCHEIBY – SERRAN – SILVA – SIQUEIRA – SOARES – TONACCI – VASCONCELOS – VELOSO
ENCICLOPÉDIA DO CINEMA BRASIEIRO
Verbetes onomásticos: ALMEIDA, Abílio Pereira de, diretor, ator, produtor. p. 22; BARRETO, Lima (Vitor Lima Barreto).diretor. p. 61; BASTOS, Othon (Othon José de Almeida Bastos), ator,. p. 69; BURLE, José Carlos (José Carlos Queirós Burle), diretor, p. 101; CAMPOS, Antônio (Antônio Romão de Souza Campos), fotógrafo, roteirista, produtor, diretor, p.108; CAPOVILLA, Maurice (Maurice Carlos Capovilla), diretor, p.114; CORTEZ, Raul (Raul Christiano Machado Pinheiro de Amorim Cortez), ator, p. 190; COUTINHO, Eduardo (Eduardo de Oliveira Coutinho), diretor, p.193, com Fernão Ramos; DAHL, Gustavo, diretor, p. 205; FENELON, Moacyr (Moacir Fenelon Miranda Henriques). produtor, diretor, p. 291; GOMES, Paulo Emilio Salles, ensaísta, p. 342; HERBERT, John (John Herbert Buckup), ator, diretor, p. 362; LEMMERTEZ, Lilian, atriz, p 405; MEDINA, José, diretor, p. 466; MEIRA, Tarcísio (Tarcísio Magalhães Sobrinho), ator, p. 467; MORAES, Vinicius de (Marcus Vinicius de Melo Morais), crítico de cinema, músico, p. 493; PORTO, Ismar (Ismar Fernandes Porto), montador, roteirista, diretor, p. 561; RENOLDI, Sylvio, montador, p. 584; ROCHA, Anecy (Anecy de Andrade Rocha), atriz, p. 597; RUSCHEL, Alberto (Alberto Manuel Miranda Ruschel); ator, p. 615; SANTORO, Fada (Mafalda Basílio Monteiro dos Santos Mandarim Santoro), atriz, p. 633; SOARES, Jofre (José Jofre Soares), ator, p. 664; SUCKSFDORFF, Arne (Arne Edwards Sucksdorff), diretor, p 679; TAMBELLINI, Flávio, crítico de cinema, diretor, p. 683; VALLE, Mauricio do (Mauricio de Miranda), ator, p. 717; VALVERDE, Rafael (Rafael Justo Valverde), montador, p. 718; VILAR, Leonardo (Leonildo Mota), ator, p. 732; VILLAÇA, Paulo (Paulo Barbosa Villaça), ator, p. 734
Verbetes temáticos: CINEJORNAL, p. 170; MULTIFILMES p. 500
RAMOS, Fernão Pessoa e MIRANDA, Luiz Felipe (orgs.). Enciclopédia do Cinema Brasileiro. São Paulo, Editora Senac, 2004, 3a.ed.
Inéditos
DOCUMENTOS PARA A HISTÓRIA DO CINEMA BRASILEIRO
A TELEVISÃO ANTES DA NOVELA: ENSAIO DE INTERPRETAÇÃO
Um dos últimos trabalhos que fiz como funcionário da Cinemateca Brasileira, por volta de 2003-4, foi terminar a classificação das intermináveis pastas clippings de imprensa sobre cinema existentes na área da hemeroteca da Documentação. Depois, meu colega Jair Piantino fez o tratamento bibliográfico necessário, dando função a uma maçaroca de papel que vinha do tempo de Lucila Bernardet na década de 1970, num acúmulo de vinte anos antes. Até o advento dos jornais on-line era o que mais se fazia naquele departamento, que agora pode se dedicar a projetos mais profícuos. Espero.
Era um serviço desagradável e cansativo, próprio para escravos ou presidiários. Para me divertir um pouco comecei a ler os versos das notícias de cinema dos recortes dos jornais. Havia muita coisa de tv, programações, colunas de fofocas, noticiário. Dessa ganga fui me aproximando aos poucos, achando curioso como era encarada a dramaturgia pelos estúdios do Sumaré, onde ficava a TV Tupi, da cadeia dos Diários Associados, de Assis Chateaubriand, ou dos outros canais que foram aparecendo em seguida. Foram organizados vários núcleos teatrais, dos quais o mais interessante parecia ser o TV de Vanguarda, do qual me lembrava por uma cena que me tinha marcado muito na infância: a de Lima Duarte castigando uma rapariga, provavelmente numa versão para Os Sertões ou outra história de banditismo rural nordestino, penteando-a com um rastelo. Outro tema que me interessava muito na época era a irracionalidade do sistema cinematográfico paulistano, fosse na fase dos estúdios nos anos 1950, fosse pela destruição dos cinemas de rua pela exibição indiscriminada do filme pornográfico (eu vi o campeoníssimo Coisas eróticas no Astor, em plena avenida Paulista).
Os recortes eram caóticos e não serviam como material de pesquisa, é óbvio. Havia uma certa flexibilidade da Biblioteca Municipal Mário de Andrade para a consulta dos jornais antigos. Não precisei de muita formalidade para pesquisá-los no próprio andar onde eles estavam armazenados, principalmente o Diário de S. Paulo, evitando a demora entre um pedido e outro na sala de consulta (a única coleção do Diário da Noite tinha sido vendida para Jorge Yunes, um dos diretores da IBEP/Cia. Editora Nacional; ela foi mais tarde doada ao Arquivo Público do Estado de São Paulo). Como estava restrito a acompanhar uma seção específica do jornal, a de televisão, o trabalho foi feito rapidamente (ver o vol. 2 com a lista de programas identificados).
A questão da irracionalidade do sistema de criação de imagens é que não foi bem resolvida. Empresários que não tinham a mínima ideia do que estavam fazendo se metiam a criar estúdios gigantescos em São Bernardo do Campo, ou no Jaçanã, ou em outro município, Mairiporã, nenhum tão próximo da capital, isso quando não se arriscavam mais ainda com narrativas com locações no Rio Grande do Sul ou Ilhabela. Empresários que não tinham a mínima ideia de onde metiam as mãos resolviam fundar uma estação de televisão para um país que não tinha público nem ao menos um aparelho de tv para venda. Como se diz popularmente: tudo era muito louco. Foi aí que a coisa ficou capenga. Como tratar esse espírito aventureiro vindos de um educado imigrante italiano ou de um esperto advogado nordestino? Se fizera tanto dinheiro durante a II Guerra, que se podia gastar sem medidas? Por pura ostentação burguesa, exibicionismo de novo-rico? Daí a razão para o ineditismo. O assunto era complexo demais para o meu pequeno conhecimento das duas temáticas principais.
ABRINDO AS PERNAS AO SOM DE MOZART E BARTÓK: OBSERVAÇÕES SOBRE O CINEMA POPULAR E ERÓTICO
No início da década de 2010 o Canal Brasil exibiu dezenas de pornochanchadas digitalizadas a partir de cópias dos produtores. Para tanto, os dirigentes do canal por assinatura criaram um horário específico para a exibição desses filmes, o Como era gostoso, por volta das 24 horas. Foram exibidas desde coisas inclassificáveis como os filmes de Mozael Silveira e Francisco Cavalcanti até as produções de Alfredo Sternheim como Anjo loiro, uma refilmagem de O Anjo azul, de Pabst, que colocava Vera Fisher no lugar de Marlene Dietrich, como se isso redundasse em algo positivo para o filme.
O programa tinha marcas interessantes como a vinheta de abertura utilizando-se de frutas, inspirada no episódio de Joaquim Pedro de Andrade para Coisas eróticas, ou a seguinte com o borracheiro Tonhão, que era realmente engraçada, mesmo que de extração óbvia e popularesca. Mais tarde, na esteira do sucesso de Como era gostoso, veio um programa de variedades sobre as extravagâncias da sexualidade nacional conduzido por Nicole Puzzi, o Pornolândia.
Fui vendo e anotando as ondas digitais que vinham da Boca do Lixo e das produções cariocas com o inqualificável Carlo Mossy na esperança de uma descoberta redentora sobre aquelas narrativas produzidas a partir de um imaginário popular sobre a sexualidade e o nosso artigo de exportação: a bunda. Como o resultado não foi satisfatório, ele ficou esquecido, reaparecendo agora na seção apropriada.
cinema brasileiro em revista: bibliografia (1950-1975)
Clube, Filmoteca, CinematecA
ABRINDO AS PERNAS AO SOM DE MOZART E BARTÓK: OBSERVAÇÕES SOBRE O CINEMA POPULAR E ERÓTICO
cinema brasileiro em revista: bibliografia (1950-1975)